sábado, 25 de junho de 2011

Ode Sombria

Quando renascer tua atmosfera,
E habitares novamente minhas artérias,
Me verás de noite, cauteloso,
Te espreitar pelas portas.
Suspeitarás, de dia,
Que calculo teu suspiro.

Cantam negros meus olhos
Nesses dias que não tive teus pés,
E minha alma grita por teus cabelos,
Escorrega pelos bueiros,
Adentra repartições,
Espiando teus passos
E maldizendo tudo que é teu.

Ah, displicente! Tantas vezes quis matar-te,
Retalhar tantos segredos devorando teus lençóis.

Enlace de minha alma em tua casa,
Espuma na areia de um mar iludido.
Não foram meus laços
Nem minha vida que tiveram teus dentes.
Entreviste meu sonho no teu sorriso
E não adivinhaste punhal que trazia no peito.

Ah, displicente! Tantas vezes quis matar-te,
Possuir teu seio, silêncio e vulgaridade.

Essas miragens de vagos ruídos
Só viam teu horizonte,
Só desejavam tuas estrelas.

Ah, displicente! Tantas vezes quis matar-te,
Sufocar tuas amantes.

Meus sentidos desfocados
Sempre irão buscar-te,
Sorver venenos subterrâneos.

Aurora vaporosa de amor,
Te dedico, sem mais,
As estrelas sem luz desse canto que é teu.

2 comentários:

  1. é sempre delicado comentar uma poesia.
    e talvez o seja porque ou elas te impactam e parecem fazer sentido... ou não.
    Eis um caso em que a poesia foi escrita com tanta fluidez e ritmo que li sem qualquer interrupção e tudo fez sentido de imediato.

    Fábio... ainda que não precises entrar na minha compulsiva produção em série, não deixe de nos presentear com poesias repentinas e repentinamente cheias de sentido. Eu realmente gostei muito.

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