terça-feira, 12 de abril de 2011

Impasse

    Sentei no banco à frente do albergue e começei a beber a cerveja que havia comprado. Sentada na calçada embaixo do andaime erguido no prédio ao lado, estava uma senhora de cabelo muito liso, bonita não fosse a pobreza. Tinha uma criança ao colo, um cobertor, uma caixa de leite e uma sacola de pão ao seu lado. Pensei de imediato que viria me interromper pra pedir alguma coisa.  Entretanto, ficou olhando o movimento enquanto eu a encarava lhe indicando a deixa. Passou uma moça nova e muito bem vestida com sua filhinha igualmente impecável, que se negava a vestir o casaco que a mãe lhe impunha. A mulher da calçada achou graça da cena e observava tudo com muita ternura. Percebendo que a encarava, me olhou por um instante com a expressão intacta. Não compreendendo o que nos tornava tão diferentes, acabei logo a cerveja e subi para o quarto bastante aborrecido. Dormi como se tivesse morrido, e assim fiquei até o dia seguinte.